Berceuse é um ato.
Liga, contextual e formalmente, a primeira à última obra de uma série de trabalhos criados como um único.
Berceuse, assim, torna circular uma sequência de quatro obras - Cruz na América, Concerto para encanto e anel, Método poético para descontrole da localidade e Esquizofrenia da forma e do êxtase. Interligadas, por concisos atos poéticos ou escultóricos, fundem inícios e fins de trabalhos, construindo um processo que se assemelha aos das árias musicais.
As árias são blocos musicais, estruturados e delimitados. Quando unidas em composição, formam um novo bloco, também estruturado e delimitado, porém maior e capilar.
No campo visual, esta capilaridade gera um volume, que exige do observador um esforço de percepção. Ao unir o trabalho anterior (este, não mais “presente"), com o atual, se dá um rompimento de escala e tempo - o trabalho, agora, necessita ser percebido não só visualmente.
Berceuse é um projeto desenvolvido em um longo período de 33-34 anos.
O uso de materiais orgânicos e inorgânicos não é o que, para o artista, estrutura este projeto. Segundo ele, o principal nesta obra é sua construção numa escala aberta, definida não pelo espaço imediato da obra, mas pela forma – uma cruz, mediante a realização de quatro trabalhos em diferentes paisagens na América, [floresta, pampa, deserto e litoral], as quais são tratadas como matéria.
A relação com o tempo, seja o instante [no caso da fotografia], seja uma temporalidade dilatada [no processo sobre o mármore ou nos elementos vegetais], é fundamental na inter-relação estabelecida entre os trabalhos.
Estes dois procedimentos, escala-forma e tempo, criam ferramentas que visam estabelecer uma conexão entre as quatro ações. Assim, cada uma delas responde por si e, simultaneamente, sugere uma unidade.
VER VÍDEO10º 07’ 49” S e 69º 11’ 11” W
O trabalho se utiliza de uma árvore e seu tempo, mas seu principal interesse é a floresta. Uma árvore, neste contexto, é um igual entre iguais; a floresta é uma imensidão cheia, construída por semelhantes. Onde tudo é o mesmo, cria-se uma unidade sem referência, perde-se a escala, produzindo um espaço de ordem desnorteada.
Próximo às coordenadas 10o sul / 69o oeste, na floresta Amazônica – Acre, seis garras de latão foram fixadas em torno de uma muda de mogno. A tendência é de que a árvore absorva o metal, fazendo-o desaparecer no interior de seu tronco ao longo de centenas de anos, assim como a floresta já fez desaparecer esta obra entre as suas milhares de árvores.
Duas poéticas direcionam esta escultura: primeiro, a impossibilidade de convivência com o trabalho na dimensão de tempo, de vê-lo em sua completude (setecentos, oitocentos anos de formação); em segundo, a consciência da perda, que remete esse espaço sem referência.
29º 50’ 02” S e 57º 06’ 13” W
Uma chapa de aço de 51 metros com 40 toneladas está apoiada sobre tocos de eucaliptos próximo ao paralelo 30º sul, tendo 11 mudas de figueira do mato a cada lado.
Entre 15 e 300 anos, o eucalipto apodrecerá, as árvores sustentarão e deformarão o plano da chapa, e o amálgama criado pelos elementos orgânicos e inorgânicos, o plano da paisagem.
A Mesa, como ponto oposto na cruz ao Grande Budha, difere dele e cria, com o tempo, uma referência no plano da paisagem.
22º 54’ 12”S e 69º 11’11”W
No deserto de Atacama, Chile, o artista utiliza, como em toda a obra Cruz na América, o tempo como matéria central. Aqui ele trata do tempo enquanto instante e, para isto, recorre ao processo fotográfico.
Seis fotos são produzidas num ponto de coordenada e direções preestabelecidas e com a velocidade da máquina fotográfica definida pelo ritmo do batimento cardíaco do artista. O longo tempo de exposição, cerca de um segundo, e a intensa luz no deserto, “estouram” as fotos. O acaso interage nesta fração de segundo e determina a visualidade das fotos.
Todas as soluções estéticas do trabalho, como local, enquadramento, velocidade e abertura, das fotos, responderam a uma decisão a priori, não determinada no local da ação, mas sim, no ateliê do artista.
04º 37’ 52” S e 37º 29’ 27” W
Interliga-se os dois pontos correspondentes à floresta e ao pampa gaúcho e traça-se uma perpendicular a essa reta, que é prolongada até o litoral, em busca da salinização.
Nesta coordenada é abandonada uma esfera de mármore com pinos de ferro, ao sabor da maré. Em um longo período, o ferro se expandirá, pela oxidação, abrindo o bloco esférico de mármore, assim como as fotos que estouram no deserto pelo excesso de luz. Neste eixo, os dois trabalhos (dos Vazios) se complementam.
Entre 1985 e 2004, Nelson Felix realiza Cruz na América, uma série de quatro trabalhos feitos em quatro paisagens diferentes da América do Sul. Ao ligar estes trabalhos por retas, dois a dois, forma-se uma cruz, cujo centro esta próximo a cidade de Camiri, na Bolívia.
Concerto para encanto e anel origina-se das coordenadas desse centro (latitude e longitude) e é realizado em três partes: duas exposições e uma série de ações escultóricas feitas ao redor do mundo. Os locais das ações, são definidos pelos rebatimentos das coordenadas de Camiri, e o desenho desse deslocamento no globo estrutura toda a obra, indicando o reposicionamento das esculturas da exposição inicial. Assim, deixa uma única peça, que realiza a segunda exposição.
A ideia de círculo e de tempo circular permeia todo este trabalho. Seja na forma ou na manufatura dos blocos de mármore, no deslocamento do artista pelo mundo e, principalmente, na rotação das vigas nos espaços das duas exposições, horizontal, inclinada e vertical.
Entre Camiri (Museu Vale, 2006) e Cavalariças (Escola de Artes Visuais do Parque Lage, 2009), o artista tece uma sequência de relações, entrecruza significados e turva deliberadamente início e fim dos trabalhos, interligando exposições, esculturas, ações, deslocamentos, ângulos etc. Coordenadas e localizações irrigam conceitualmente o espaço expositivo e, muitas vezes, posicionam ou definem elementos próprios da escultura, como: forma, material, proporção ou ritmo. Uma série de significados que, somados, se anulam, não pela negação, e sim pelo excesso.
Amalgamar o trabalho, sem anular seus limites. As duas exposições e a série de ações, não são obras estanques e sim uma única, como uma ópera e seus atos, ou um concerto e suas partes.
VER VÍDEOÉ um trabalho sobre o espaço. Seu processo assemelha-se aos livros de poesia moderna, nos quais desenhos ou gravuras criam uma relação entre texto e imagem. Nesse sentido, esculturas, desenhos, ações, fotografias, vídeos e deslocamentos ilustram um texto, formando uma outra noção de lugar que se submete ao próprio globo terrestre.
Como expressa seu título, o trabalho visa traduzir uma ideia de espaço, simultâneo, de construção poética, que amalgamam locais por meio do desenho e de ações semelhantes. Assim como em Grafite (1986), no qual posicionava a peça de acordo com o eixo do sol, deslocando a sua posição, de uma ideia composicional com o espaço imediato, para uma posição, a priori, perfeita do universo. Aqui também, o espaço criado remete constantemente a um lugar aqui e outro acolá, ou seja, uma espécie de aqui diverso.
As quatro obras que compõem o trabalho – 4 cantos, Verso, Um canto para onde não há canto e Trilha para 2 lugares –, utilizam o espaço em sua estrutura mais simples: o canto, o verso, o centro e a direção. A esses elementos soma-se a observação multifacetada do nosso entorno atual. Existe hoje um entrecruzamento de fatores físicos e não físicos, acoplados a esse entorno tridimensional, fatores como: informações, significados, história, hierarquia, tempo, etc. O nosso espaço atual, pelo menos em arte, não é mais tão limpo. Este trabalho (e seus a quatro atos), reúne ambientes externos e internos, mas seu interesse se encontra no duplo, no triplo, ou mesmo, nos vários significados criados no próprio sítio da exposição.
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4 cantos e Verso partem dos termos espaço e poesia. No ambíguo significado na língua portuguesa, com as palavras canto e verso; ora elas adquirem um sentido espacial, ora um sentido poético.
4 cantos (2007/2008) foi realizado em Portugal, a convite da Fundação Serralves, alude à forma retangular do contorno geográfico do país. Um caminhão munck, carregado com quatro blocos de pedra (de seis a oito toneladas cada), percorre os quatro extremos do seu território. Nos três primeiros, em espaços externos, as rochas são colocadas sobre o solo e o artista as desenha incessantemente, apreendendo a forma e o entorno (a própria paisagem), que elas naquele momento marcavam. No último, já em ambiente interno, os blocos são tombados contra as paredes dos quatro cantos da sala expositiva e fixados com ponteiras de bronze onde estavam gravados oito versos do poema “A Casa térrea”, de Sophia de Mello Breyner Andresen. Juntos, os cantos dos espaços externos, os cantos do espaço expositivo e o canto do poema se imantavam e aludiam a outra escala.
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Verso (2011/2013) nasce da observação de que a cidade de São Paulo (principal centro brasileiro), encontra-se equidistante e sobre uma linha imaginária que liga duas pequenas ilhas, uma no Oceano Pacífico (arquipélago de San Juan) e outra no Atlântico (Ascensão). O artista viaja para as duas ilhas, dois opostos, dois versos – criados no globo terrestre. Nelas, coloca-se numa direção em que o olhar para o horizonte desse a volta na circunferência do planeta até alcançar São Paulo. Nesses dois locais são fincadas três peças de bronze, que remetendo à decomposição das três partes da letra A , em uma homenagem ao poeta catalão Joan Brossa e ao seu poema intitulado “Desmuntatge”. Depois, o artista desenha incessantemente até impregnar-se do local e da paisagem dessas ilhas. Em São Paulo, insere peças circulares de mármore e torna a fincar as três partes da letra A em bronze, no espaço expositivo da galeria. Em Verso, não há um espaço único, configurado em uma sala, mas sim um que remete poeticamente a uma noção espacial circular, de uma escala dilatada até a impossibilidade de percepção física, mas unida por ações similares e pela forma de uma letra.
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Um canto para onde não há canto (2009/2011), feito para a cidade de Brasília, a convite do CCBB, aborda o centro como um local ausente ou onipresente. O centro está onde está o interesse, e não mais no lugar geométrico. Ele parte do princípio urbanístico de que essa cidade “central” não tem esquinas. Traça um retângulo, que envolve os dois eixos do plano diretor e construindo assim quatro cantos ao traçado. A cada um desses locais, o artista leva um vaso com a inscrição de uma das estrofes do poema “La Voce”, de Cesare Pavese, onde se encontra cultivada uma planta sensitiva, mimosa pudica (dormideira). Após tocar a planta e seguindo a sua retração, inicia uma série de desenhos, visando construir nesses locais um cantar poético, pela impregnação da poesia no ato contínuo de horas de desenho. Tudo que foi utilizado nesses quatro pontos é deixado in loco, nada de material persiste ou foi levado. Assim, nenhum objeto consta no espaço interno e expositivo, somente a referência da presença da poesia, do toque e dos desenhos, feitos e abandonados nesses quatro sítios da cidade.
Trilha para 2 lugares (1984/2017) se refere a um espaço construído por três ações e unido pelo acaso duma poesia, que usada uma única vez, no início, norteia toda a obra.
Os trabalhos de Método… são pensamentos poéticos sobre o espaço, sendo que a esse quarto trabalho se somou o atual conceito espacial de corda e com ele, acoplado, o som. No museu, um forte estiramento na sua arquitetura indica uma direção, o percurso poético realizado pelo artista no globo. No som, uma trilha sonora, feita in loco para os vídeos elaborados nas ações desse trajeto. É na reunião desses três locais, mas principalmente, onde o trabalho emerge, que recai a atenção. Nesse sítio, um duplo se cria – o museu, como, e é, um instrumento de arte.
“.. é dedicado a Mallarmé e ao seu central poema ‘Um lance de dado jamais abolirá o acaso’”, texto extraído de uma entrevista ao poeta Alberto Pucheu. Lanço um dado, com o número seis em todas as faces, sobre um mapa-múndi, em uma data e hora estabelecidas e em um local incidental do curso duma estrada. O dado, jogado, define seu acaso, não mais pela aleatoriedade do número, mas sim pela aleatoriedade de sua posição indicada sobre o mapa. Os locais do trabalho são firmados nesta ação: Cítera (ilha grega) e Santa Rosa (pampa argentino). Observo depois que vários artistas realizaram obras sobre a peregrinação a essa ilha: Watteau, Gerard de Nerval, Verlaine, Victor Hugo, Baudelaire (que muito influenciou Mallarmé), Debussy e mas recentemente Theo Angelopoulos. Como uma epígrafe, ou como uma homenagem – um vir ao caso –, defino um terceiro local, o restaurante La Closerie des Lilas, em Paris. Todos, com exceção de Watteau (precursor do tema), frequentaram esse café.
Nos três locais – Cítera, Santa Rosa e La Closerie – lanço, enterro e abandono dados de bronze e desenho compulsivamente. O trabalho é finalizado no MAM do Rio, onde uso o museu, também como um objeto, duplicando assim sua ideia de lugar. Grosso modo, poeticamente, 3 locais em 2 lugares de 1 mesmo espaço.”
Foi realizado em Portugal, a convite da Fundação Serralves, alude à forma retangular do contorno geográfico do país. Um caminhão munck, carregado com quatro blocos de pedra (de seis a oito toneladas cada), percorre os quatro extremos do seu território. Nos três primeiros, em espaços externos, as rochas são colocadas sobre o solo e o artista as desenha incessantemente, apreendendo a forma e o entorno (a própria paisagem), que elas naquele momento marcavam. No último, já em ambiente interno, os blocos são tombados contra as paredes dos quatro cantos da sala expositiva e fixados com ponteiras de bronze onde estavam gravados oito versos do poema “A Casa térrea”, de Sophia de Mello Breyner Andresen. Juntos, os cantos dos espaços externos, os cantos do espaço expositivo e o canto do poema se imantavam e aludiam a outra escala. 4 cantos e Verso partem dos termos espaço e poesia. No ambíguo significado na língua portuguesa, com as palavras canto e verso; ora elas adquirem um sentido espacial, ora um sentido poético.
Verso (2011/2013) nasce da observação de que a cidade de São Paulo (principal centro brasileiro), encontra-se equidistante e sobre uma linha imaginária que liga duas pequenas ilhas, uma no Oceano Pacífico (arquipélago de San Juan) e outra no Atlântico (Ascensão). O artista viaja para as duas ilhas, dois opostos, dois versos – criados no globo terrestre. Nelas, coloca-se numa direção em que o olhar para o horizonte desse a volta na circunferência do planeta até alcançar São Paulo. Nesses dois locais são fincadas três peças de bronze, que remetendo à decomposição das três partes da letra A , em uma homenagem ao poeta catalão Joan Brossa e ao seu poema intitulado “Desmuntatge”. Depois, o artista desenha incessantemente até impregnar-se do local e da paisagem dessas ilhas. Em São Paulo, insere peças circulares de mármore e torna a fincar as três partes da letra A em bronze, no espaço expositivo da galeria. Em Verso, não há um espaço único, configurado em uma sala, mas sim um que remete poeticamente a uma noção espacial circular, de uma escala dilatada até a impossibilidade de percepção física, mas unida por ações similares e pela forma de uma letra.
Feito para a cidade de Brasília, a convite do CCBB, aborda o centro como um local ausente ou onipresente. O centro está onde está o interesse e não mais no lugar geométrico. Ele parte do princípio urbanístico de que essa cidade "central" não tem esquinas. Traça um retângulo, que envolve os dois eixos do plano diretor e construindo assim quatro cantos ao traçado. A cada um desses locais, o artista leva um vaso com a inscrição de uma das estrofes do poema "La Você", de Cesare Pavese, onde se contra cultivada uma planta sensitiva, mimosa pudica (dormideira). Após tocar a planta e seguindo a sua retração, inicia uma série de desenhos, visando construir nesses locais um cantar poético, pela impregnação da poesia no ato contínuo de horas de desenhos, visando construir nesses locais um cantar poético, pela impregnação da poesia no ato contínuo de horas de desenho. Tudo que foi utilizado nesses quatro pontos é deixado in loco, nada de material persiste ou foi levado. Assim, nenhum objeto consta no espaço interno e expositivo, somente a referência da presença da poesia, do que e dos desenhos, feitos e abandonados nesses quatro sítios da cidade
Trilha para 2 lugares (1985/2017) se refere a um espaço construído por três ações e unido pelo acaso duma poesia, que usada uma única vez, no início, norteia toda a obra.
Os trabalhos de Método poético para descontrole de localidade são pensamentos poéticos sobre o espaço. Neste quarto trabalho se somou ao conceito espacial de corda e com ele, acoplado, o som.
No museu, um forte estiramento na sua arquitetura indica uma direção - o percurso poético realizado pelo artista no globo. O som pelo cabo de aço emitido através desse intenso estiramento, gera uma trilha sonora, feita in loco para os vídeos elaborados nas ações desse trajeto. É na reunião desses três locais, mas principalmente, onde o trabalho emerge, na sala museológica, que recai a atenção. Nesse sítio, um duplo se cria – o museu como instrumento-, ora como búlsola (indicador de direção), ora como um instrumento musical, que emite som.
"Trilha para 2 lugares é dedicado a Mallarmé e ao seu central poema Um lance de dado jamais abolirá o acaso", texto extraído de uma entrevista ao poeta Alberto Pucheu. “Lanço um dado, com o número seis em todas as fases, sobre um mapa-mundi, em uma data e hora estabelecidas e em um local incidental do curso duma estrada. O dado, jogado, define seu acaso, não mais pela aleatoriedade do número, mas sim pela aleatoriedade de sua posição indicada sobre o mapa. Os locais do trabalho são firmados nesta ação: Cítera (ilha grega) e Santa Rosa (pampa argentino). Observo depois que vários artistas realizaram obras sobre a peregrinação à essa ilha: Watteau, Gerard de Nerval, Verlaine, Victor Hugo, Baudelaire (que muito influenciou Mallarmé), Debussy e mas recentemente Theo Angelopoulos. Como um epígrafe, ou mesmo como uma homenagem, defino um terceiro local, o restaurante La Closerie des Lilas, em Paris. Todos, com exceção de Watteau (precursor do tema), frequentaram esse restaurante. Nos três locais - Cítera, Santa Rosa e La Closerie - lanço, enterro e abandono dados de bronze e desenho compulsivamente. O trabalho é finalizado no MAM, do Rio, onde uso o museu, também como um objeto, duplicando assim sua ideia de lugar. A grosso modo, poeticamente, 3 locais em 2 lugares de 1 mesmo espaço."
Este trabalho tem sua escala, se assim posso dizer, composta de três locais: o primeiro numa ação em dois pontos da América - e por isso continental. Depois, numa peça em espaço externo, instalada por um único dia (durante o equinócio de primavera), em um prédio da cidade de São Paulo, e por último, a realização deste processo, traduzido agora para a linguagem escultórica em espaço interno, numa série de esculturas realizadas para o prédio da Bienal de São Paulo.
A percepção de espaço expositivo aqui se caracteriza por um emaranhado de questões, muitas vezes díspares, esquizofrênicas até. A noção de espaço engloba a poesia e o desenho, nesse sentido; esculturas, objetos, fotografias, ações, coordenadas geográficas, ou mesmo deslocamentos, constroem uma trama, que não recorre só ao local imediato da obra instalada. A natureza deste espaço, não é puramente concreta; tem como base o senso poético. Sua referência não se baseia unicamente na dimensão métrica. Está carregada de percepções, significados, história, sentimentos, desejos, memórias. Um esforço se faz necessário por parte do observador. A obra requer tempo para que possa ser tateada e assim perceber a sua completa construção. Neste trabalho o artista, foi a dois lugares na América: Anchorage, no Alasca, e Ushuaia, na Argentina - “o início e o fim” de duas cordilheiras que considera uma (a soma das Montanhas Rochosas e dos Andes); as vê, poeticamente, como uma coluna vertebral do globo terrestre. Nestes locais, escolhe a posição das duas partes da escultura que instala no prédio da 9 de julho. Nesse exagero de elementos articulados nasce uma noção de paisagem, uma ideia de espaço em que se mesclam; espaço natural, operações poéticas e espaço construído.