Carta de amor é um trabalho que espelha Grafite (1985/1988).
Vejo Grafite como o início do pensamento que possibilitou a construção de obras com espaços diversos. Aglomerados de locais, assim como as árias, blocos musicais que se somam nas óperas.
Em Grafite, 2 hastes são posicionadas com procedimentos diferentes: uma alinhada ao eixo do sol, no momento em que o trabalho é instalado. Essa posição alude a uma colocação ‘perfeita’, pois é a referência solar e em torno de que tudo gira e gravita - a tal ponto precisa, que todo o resto pode ser considerado torto -. Como a disposição da peça é definida a priori, anterior mesmo à escolha do espaço expositivo, ignora a possibilidade de composição com ele. A outra peça, propositalmente, tem sua posição escolhida.
Carta de amor é seu reflexo. Uma haste de mármore é colocada verticalmente na arquitetura, portanto ‘perfeita’ com ela. Agora busca-se no tempo, não mais no espaço, o momento em que esta haste formará uma cruz com o eixo do sol. O que, antes, em Grafite, era alinhado, em Carta de amor, é transversal. Apesar da evidente verticalidade (pendular até) da escultura, é na realidade, horizontal no nosso sistema solar.