Entre 1985e 2004, Nelson Felix realiza Cruz na América, uma série de quatro trabalhos feitos em quatro paisagens diferentes da América do Sul. Ao ligar estes trabalhos por retas, dois a dois, forma-se uma cruz, cujo centro esta próximo a cidade de Camiri, na Bolívia.
Concerto para encanto e anel origina-se das coordenadas desse centro (latitude e longitude) e é realizado em três partes: duas exposições e uma série de ações escultóricas feitas ao redor do mundo. Os locais das ações, são definidos pelos rebatimentos das coordenadas de Camiri, e o desenho desse deslocamento no globo estrutura toda a obra, indicando o reposicionamento das esculturas da exposição inicial. Assim, deixa uma única peça, que realiza a segunda exposição.
A ideia de círculo e de tempo circular permeia todo este trabalho. Seja na forma ou na manufatura dos blocos de mármore, no deslocamento do artista pelo mundo e, principalmente, na rotação das vigas nos espaços das duas exposições, horizontal, inclinada e vertical.
Entre Camiri (Museu Vale, 2006) e Cavalariças (Escola de Artes Visuais do Parque Lage, 2009), o artista tece uma sequência de relações, entrecruza significados e turva deliberadamente início e fim dos trabalhos, interligando exposições, esculturas, ações, deslocamentos, ângulos etc. Coordenadas e localizações irrigam conceitualmente o espaço expositivo e, muitas vezes, posicionam ou definem elementos próprios da escultura, como: forma, material, proporção ou ritmo. Uma série de significados que, somados, se anulam, não pela negação, e sim pelo excesso.
Amalgamar o trabalho, sem anular seus limites. As duas exposições e a série de ações, não são obras estanques e sim uma única, como uma ópera e seus atos, ou um concerto e suas partes.
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